As Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) lançaram um voo que liga Lanseria, em Joanesburgo, ao aeroporto Filipe Jacinto Nyusi, em Chongoene, província de Gaza. Grande parte dos beneficiários são mineiros, que passam a poder viajar em menos tempo.
As Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) continuam a desbravar o mercado aéreo além-fronteiras. Desta vez, a LAM lançou um voo a partir do aeroporto privado de Lanseria, Cidade de Joanesburgo, África do Sul para o Aeroporto Filipe Jacinto Nyusi, Chongoene, província de Gaza.
A cidade de Joanesburgo é a capital da província de Gauteng, a mais rica da Terra do Rand, sobretudo em recursos minerais. E as minas daquelas terras empregam mais de 16 mil moçambicanos, que buscam melhores condições de vida por lá.
Quando chega a quadra festiva, voltar à terra natal tem sido um martírio, sobretudo por conta da longa espera nas fronteiras terrestres. É a partir do Aeroporto Internacional de Lanseria, norte de Randburg e Sandton, que a LAM faz um check in de uma nova página na história dos mineiros moçambicanos na África do Sul.
Salvino Mucavele é mineiro da África do Sul há 18 anos. A pobreza e a falta de emprego em Moçambique obrigaram-no a lá ir parar.
“Com o trabalho das minas, consigo sustentar a minha família e, actualmente, tenho uma barraca aberta, de onde os meus buscam sustento enquanto trabalho nas minas”, contou Salvino Mucavele, mineiro nas minas da África do Sul.
Durante os 18 anos de trabalho nas minas sul-africanas, Salvino conta que nunca foi fácil voltar a Moçambique para visitar sua família.
“Para nós, os mineiros, somos muito beneficiados porque sai hoje (no próprio dia) e chega cedo a casa. Antes, a situação era muito difícil, principalmente, nesta quadra festiva. Há muito congestionamento nas fronteiras e chega a levar entre dois e três dias ainda no caminho”, referiu Silvino Mucavele.
Mas agora, os mineiros têm o meio aéreo como alternativa às longas e cansativas horas de viagem via terrestre.
“Veja como estou, viajarei assim mesmo até chegar à casa, em 30 minutos e sequer irei transpirar. Vejo com bons olhos (esta iniciativa)”, afirmou Lucas Machava, também mineiro nas terras do rand, num tom carregado de felicidade.
Entretanto, os mineiros pedem uma redução dos pouco mais de três mil rands do preço da passagem do voo.
“O que preocupa é o preço que é um pouco alto. Há necessidade de uma negociação de modo a reduzir um pouco. Pelo menos baixar até dois mil rands e tal”, expôs a preocupação Lucas Machava.
Reagindo à reclamação dos mineiros sobre o preço da passagem, o ministro garantiu que a questão vai merecer a atenção do Governo.
“Vamos, sempre na medida do possível, tentar encontrar preços que possam ser compatíveis com as possibilidades dos mineiros, mas eu posso garantir que a preço de cinco mil meticais uma viagem e onze mil meticais ida e volta, somos competitivos. Então, vamos trabalhar em pacotes diversos à medida que temos volumes necessários, podemos baixar os preços e ajudar os mineiros e outros viajantes a usufruir desta oportunidade”, avançou Mateus Magala, ministro dos Transportes e Comunicações.
E como ficam os bens que comprovam na África do Sul e transportavam em viaturas? “Já não se faz. A gente só leva dinheiro e tudo vai se comprar lá em casa”, revelou Belmiro Munguambe, mineiro na África do Sul.
E Lucas Machava acrescentou: “Caso tenha alguma coisa, pode colocar num carro e levar para casa. Vai encontrar os seus bens lá. É melhor assim”.
Enquanto aguardam pela hora do embarque no conforto do Aeroporto de Lanseria, os mineiros desconstroem os mitos e medos em torno do avião.
“Há pouco receio. Há um pouco de medo. Não sei o que vai acontecer, mas enfim…dizem que o bom soldado morre na guerra”, falou do seu medo, Lucas Machava.
O voo das Linhas Aéreas de Moçambique a partir de Lanseria para a província de Gaza não beneficia apenas aos mineiros.
“É a melhor coisa que já nos aconteceu. De três horas para uma. O aeroporto é bom”, elogiou Christina Zaiman, turista com destino à Xai-Xai.
E Johan olha para o voo numa perspectiva além do turismo.
“Este voo vai criar facilidades para as pessoas que viajam por curto período de tempo, ao invés de recorrer a fronteira terrestre. Tenho ido a Moçambique por sete anos conduzindo e temos tido muitos problemas indo e voltando. Penso que este voo, especialmente, este vai tornar possível a mobilidade de pessoas local e internacionalmente, fazendo negócios. Poderão viajar mais e fazer isso mais rápido e seguro”, apontou o cidadão sul-africano.
Já no interior do avião, o ministro dos Transportes e Comunicações assumiu o papel de assistente de cabine e deu boas vindas aos passageiros. Os mineiros pareciam crianças curiosas…perguntavam tudo, recebiam explicações, mexiam em quase tudo e, claro, não faltaram fotos, muitas fotos. O medo tomou conta dos viajantes.
“Assustou-me um pouco. Só não falei, mas no coração sentia medo, mas já me sinto bem. Percebe-se que está em movimento. Parece estar a andar em terra, mas percebe-se que está em movimento”, contou Constantino Machava, mineiro a bordo no voo da LAM.
Aos jornalistas, Magala contrariou o que muito já se disse sobre o Aeroporto Filipe Jacinto Nyusi, afirmando que a infra-estrutura é viável.
“O que nós precisamos, é termos criatividade na forma como identificamos os passageiros que possamos levar ao destino, que é Xai-Xai”, justificou Mateus Magala.
O voo foi lançado neste período para capitalizar o fluxo de mineiros que regressam ao país para celebrar as festas junto dos seus familiares.
A partir de Fevereiro haverá dois voos semanais de Lanseria para Gaza e vice-versa.
“Esta rota é mais do que uma conexão aérea, é uma ponte que une pessoas, culturas e negócios. Juntos estamos a construir uma nova era para a aviação moçambicana, que se destaca pela eficiência, conforto e compromisso com cada passageiros”, destacou Sérgio Matos, gestor do Projecto de Reestruturação da LAM.
Para o sucesso deste voo, a ministra do Trabalho e Segurança Social conta com a contribuição de cada mineiro.
“Os nossos mineiros devem ser os porta-voz para os demais pela maneira como foram tratados a partir do aeroporto até à nossa chegada aqui (província de Gaza), mas sobretudo o tempo que gastaram. Alguns daqui, saíram das minas e no próprio dia conseguiram viajar de volta às suas origens”, apelou Margarida Talapa, ministra do Trabalho e Segurança Social. O voo inaugural das Linhas Aéreas de Moçambique tinha a bordo mais de 100 mineiros e a previsão é que mais 1.500 usem este meio de transporte até dia 02 de Janeiro de 2024.
Fonte:O País