Foram, hoje, restituídos à liberdade os 17 manifestantes detidos na marcha organizada pela Renamo, na Cidade de Maputo. A juíza do caso disse que os autos apresentados pela Polícia não foram assinados.
Foi aos cânticos que enalteciam a vitória da Renamo na Cidade de Maputo, que os 17 jovens que foram detidos na última sexta-feira celebravam a liberdade. Trata-se de integrantes da marcha de contestação de resultados eleitorais e outros nem por isso.
Em mãos, todos eles ostentavam o papel branco. Era um mandato de soltura, a carta de alforria dos manifestantes. Para a atribuição do tal documento, a juíza da segunda secção criminal de Kampfumo usou, como fundamento, o facto de os autos da Polícia da República de Moçambique não terem sido assinados e, por isso, eram inválidos.
Depois da soltura, os jornalistas lá estiveram para ouvir, de quem sentiu na pele, como é ser privado quatro dias de liberdade nas celas da PRM. “É uma situação difícil e lamentável. Os direitos humanos foram violados. Estivemos a dormir no pavimento e sem cobertor e muito menos algo para estender. Quanto à alimentação, se não fosse pela nossa família, que veio três dias depois, não sei em que estado estaríamos. Foi muito difícil. Um quarto que deviam dormir quatro pessoas, estão lá mais de 100 pessoas”, narrou um dos jovens detidos e já restituído à liberdade. Um dos jovens conta que foi detido, simplesmente, por andar na rua no dia da manifestação.
“As vias são para as pessoas poderem locomover -se e/ou passar por elas. Eu fui preso sem justa causa. Fui privado de poder cuidar da minha família. Passei dois dias, estou a falar de sexta-feira e o dia de ontem sem ir à faculdade. Eu sou alguém que preza pela família, tenho uma filha que nasceu com problemas e fiquei privado de poder cuidar da minha filha por conta do comportamentos dos agentes da PRM. A nossa Polícia, naquele dia, agiu de má-fé”, lamentou um outro jovem que alega ter sido detido inocentemente.
O cabeça-de-lista da Renamo, na Cidade de Maputo, esteve na soltura dos 17 jovens e disse que o partido vai responsabilizar a Polícia que os detivera. “Tudo que a Polícia montou para deter estes jovens é outro crime. Por isso, nós estamos a instaurar e a solicitar os advogados da Renamo e ficamos com os nomes de todos os jovens, vamos pedir, em nome destes jovens, indemnização ao próprio Estado. Eles ficaram privados da sua liberdade, da escola, da sua família, dos seus negócios, houve injúria moral, há danos morais que foram causados a estes jovens por um acto que o Tribunal considera inválido ou, por outras palavras, um acto incompetente e falsificado”, revelou Venâncio Mondlane, cabeça-de-lista da Renamo na Cidade de Maputo.
E quinta-feira vai haver mais uma marcha e os jovens dizem que lá estarão. “Na quinta-feira, vamos retomar as marchas para celebrar a soltura dos jovens e a nossa vitória na Cidade de Maputo. Quinta-feira, às 09 horas, haverá a nossa concentração na Praça da Juventude em Magoanine”, deu a conhecer Venâncio Mondlane.
E mais uma vez, os jovens dizem “sim” à marcha: “Irei voltar, sim, por isso é uma revolução. Isto não termina aqui. O caminho é para frente. Enquanto não ouvirem o que o povo quer, isso não termina. O caminho é para frente”, sublinhou o jovem manifestante. “O País” soube de alguém próximo ao processo que os detidos eram acusados, dentre outros crimes, de associação para obstruir a via pública, porte de bombas caseiras e vandalização de bens públicos e privados.
Em todo o país, contavam-se mais de 100 jovens detidos em marchas de contestação de resultados eleitorais.
Fonte:O País