Revista Tempo

Um terço dos alimentos perde-se por diferenças na distribuição

Hélder Muteia defende transformação da agricultura familiar numa agricultura voltada para os mercados

O antigo ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Hélder Muteia, defende a transformação da agricultura familiar numa agricultura voltada para os mercados. Muteia, que exerce o papel de Coordenador da FAO para a África Central, falava numa palestra dirigida a estudantes do Instituto Superior das Relações Internacionais, ISRI, com o lema “Segurança Alimentar na África Austral: Desafios, Políticas e Perspectivas”, Perante uma platéia composta por estudantes de diferentes instituições de ensino superior da Capital, nas instalações do Instituto Superior das Relações Internacionais, Hélder Muteia, com experiência de vários anos na FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) começou por partilhar com os presentes a noção que tem da severidade do problema. “Quando a gente fala da fome, muitas vezes não tem a consciência do que está a falar. É uma fome que dói e mata. E a África subsaariana é a região onde a fome mais dói”, lamentou Muteia, que na ocasião explicou que uma das grandes ameaças é o crescimento da população, que faz os alimentos escassearem por não estar a ser acompanhada pelo aumento da produção alimentar. “Nunca houve tanta produção de alimentos no mundo. Todos os anos são batidos recordes de produção de alimentos, mas o grande problema é que a distribuição é assimétrica. Existe excesso para uns e falta para outros”, explicou, apontando para as consequências de tal fenómeno, entre eles o facto de que “um terço dos alimentos que são produzidos acabam no caixote de lixo, são desperdiçados, o que não dignifica a humanidade, dai que merece reflexão profunda. Pressão populacional exige aumento da produção alimentar em 60% Segundo Hélder Muteia, a população mundial hoje é estimada em sete mil milhões de habitantes. Este número poderá crescer para 9.1 mil milhões até 2050 e para acertar o passo com este crescimento é preciso que a produção alimentar cresça em pelo menos 60%, o que ainda não está a acontecer. Outros pontos fracos descritos por Muteia incluem o perigo das mudanças climáticas. Alerta preocupante é a possibilidade de o fenómeno El Niño (desastre climático que causou seca no Sul do país recentemente) poder ocorrer com mais frequência e reduzir ainda mais a produção alimentar. Perante estes riscos, Hélder Muteia chama atenção para investimentos focados da transformação da agricultura. A ideia é a transformação da agricultura de subsistência para uma agricultura comercial, ou seja, a que permite que os produtores melhorem a produção, produtividade e qualidade de vida. A este respeito, Muteia estimou que 80% dos produtores familiares são pobres e é isto que é preciso mudar. As prioridades dos governos africanos também devem estar focadas em políticas que promovam melhor capacidade de intervenção a nível local e na cooperação estratégica. 

Fonte: O Pais -Economia

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