Marta Magaia, irmã mais velha de Filipe Samuel Magaia, revelou que o herói nacional sempre foi uma pessoa disciplinada e que exigia das pessoas responsabilidade em tudo aquilo que elas faziam.
Ela conta que desde cedo o irmão demonstrou uma capacidade de liderança ao conseguir juntar amigos e dirigir formaturas, tal como assistira em filmes militares chineses que passavam na época. Afirmou que ainda cedo abraçou o espírito revolucionário, daí as amizades com pessoas que se identificavam com o nacionalismo, libertação da pátria.
Foi depois de vivenciar vários aspectos desumanos perpetrados pelos portugueses que aumentou o seu interesse pela liberdade e a conduta intransigente face à dominação colonial portuguesa.
Foi nessa perspectiva que juntamente com outros jovens nacionalistas fundou o Núcleo dos Estudantes Nacionalistas Africanos (NESAN) do qual fizeram parte Eduardo Mondlane, Joaquim Alberto Chissano, Armando Guebuza, entre outros.
Ela explicou que no ano de 1958 foi recrutado para o cumprimento do serviço militar colonial tendo sido colocado, após à recruta, em Nampula onde permaneceu durante 18 meses. Depois disso foi chamado para os Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM), onde havia concorrido para um emprego, baseado na cidade da Beira. Foi daqui donde partiu para se juntar à Frelimo, sem poder se despedir da família.
“Quando o Filipe foi à Tanzânia não se despediu de ninguém e a informação chegou nos depois de recebermos um bilhete em que ele avisava para que não lhe fossem enviadas mais cartas porque já não estava na Beira”, afirmou Marta Samuel Magaia.
Contou que por via disso, várias vezes a PIDE vigiou a casa e a mãe, Ana Albino Perreira, foi várias vezes investigada e maltratada alegadamente porque tinha que explicar o paradeiro do filho, apesar de esta não saber de nada.
Filipe Samuel Magaia nasceu a 7 de Março de 1937 em Mocuba, província da Zambézia, filho de Gunguene Magaia, enfermeiro de profissão, e Ana Albino Pereira. Iniciou os seus estudos primários na Escola da Igreja Metodista Wesleyana de Mavalane, concluiu a 4ª classe na Escola da Missão São Roque de Matutuíne, para onde o pai tinha sido transferido em serviço.
Quando o pai voltou à cidade de Maputo (Loureço Marques) Filipe Samuel Magaia frequentou com êxito a Escola Comercial Dr. Azevedo Silva, actual Instituto Comercial de Maputo, nos anos 1952 a 1953.
No ano de 1962 juntou-se à Frelimo, onde desempenhou o cargo de primeiro secretário do Departamento da Defesa, sendo que no ano seguinte dirigiu a abertura do campo de treinos de Bagamoyo, na Tanzânia. Foi assassinado a 11 de Outubro de 1966 quando chefiava um grupo de guerrilheiros em missão na província de Niassa e seu corpo sepultado em Songea, na Tanzânia, sendo que os seus restos mortais foram exumados em 1979 e transladados para a cripta da Praça dos Heróis, em Maputo.
Filipe Samuel Magaia era o segundo de um total de treze irmãos, nomeadamente Marta, Natália, Domingos, Emília, Fátima, Manuel, Delfina, Elisa, Inácio, Carlos, Beleza e Aurora. Destes, sete continuam vivos.
Homem de coragem e disciplina
Alberto Chipande, companheiro da batalha de Filipe Samuel Magaia, afirmou que a determinação, a coragem e disciplina deste herói nacional foram as suas virtudes.
“Magaia tinha um espírito patriótico e disciplinado. Até o dia da sua morte mostrou ser um homem determinado, militar lúcido, um instrutor militar excelente, um comandante estratega, mobilizador visionário e nacionalista valente. Ele foi uma fonte de inspiração para os guerrilheiros da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique”, lembrou Chipande.
Acrescentou que foi Magaia quem organizou o Departamento de Defesa e dirigiu a luta, travou batalhas, e criou frentes em Cabo delgado, Niassa, Tete e Zambézia, daí ser bastante difícil descrever um homem com as suas capacidades.
Acrescentou que muitos episódios no que concerne ao seu desempenho revelam que Filipe Samuel Magia tinha espírito de sacrifício, acto de bravura e entrega total pela causa da libertação nacional.
Trajectória que se confunde com a história da Frelimo
O secretário-geral da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLLN) defende que a trajectória de Filipe Samuel Magaia se confunde com a história da Frelimo pelo facto deste ter cooperado na edificação do estado soberano de direito democrático e por ter sido responsável pelo resgate da identidade do povo moçambicano.
“Magaia bateu-se contra a segregação racial, a opressão que era baseada na exploração do homem pelo homem. Foi devido a essas atitudes e práticas desumanas, do regime colonial português que fizeram com que ele, muito cedo, compreendesse que havia nascido escravo e era preciso lutar em prol da liberdade”, sublinhou.
Referiu que de forma abnegada Magaia usou todos os recursos disponíveis e acessíveis tendo iniciado o processo de escolarização e amadurecimento de suas ideias de luta contra o regime colonial português.
Faustino afirmou que Filipe Samuel Magaia foi sempre uma pessoa activa, um chefe enérgico e multidisciplinar. Era muito amigo das pessoas, mas nas trincheiras tinha uma disciplina militar rigorosa.
“Ele é que elaborou a estratégia do Departamento da Defesa e Segurança da Frelimo. Portanto, no início da luta armada ele é que fez a estruturação, enquadramento, treino dos primeiros guerrilheiros nos campos militares de Bagamoyo e Kongwá e o seu envio para as províncias de Cabo Delgado, Niassa, Zambézia e Tete, disse Matsinhe”, contou.
Defendeu que Filipe Samuel Magaia era um Comandante zeloso, aguerrido e destemido, preocupado com aspectos materiais e sociais da vida dos guerrilheiros; conhecido pelos seus princípios de gestão participativa e inclusiva dos recursos.
Outra fonte do sucesso de Filipe Samuel Magaia residiu na forma como assumiu, reinterpretou e implementou a essência da Unidade Nacional e o diálogo permanente com os guerrilheiros e com as populações que foram a base social, os agentes e parceiros estratégicos para o triunfo da luta de libertação Nacional.
A ESTÁTUA
Em homenagem ao herói Filipe Samuel Magaia, o Governo construiu uma estátua no bairro do Chamanculo “C”, na rotunda da Terminal Rodoviária Interprovincial da Junta, na cidade de Maputo. Trata-se de um monumento de bronze, com cerca de três metros de altura, três toneladas de peso, idealizada por um artista nacional, Pompílio Gemuce.
A sua construção iniciou com molde feito à base de barro, com uma altura de cerca de um metro e meio ao que se seguiu o seu scanner antes de seguir para a República da África do Sul para ser fundida em bronze e ampliada até atingir a actual altura. A estátua está revestida de vestes militares, com uma mochila nas costas, arma, binóculos nas mãos e em posição de marcha.
No monumento, para além da própria estátua, foram erguidos à sua volta, murais que retratam a sua vida e obra, desde o seu nascimento até à morte, assim como cinco placas, pintadas com as cores da bandeira nacional e igual número de depoimentos dos seus colegas de trincheira, nomeadamente, Feliciano Gundana, Alberto Chipande, Raimundo Pachinuapa, Mariano Matsinhe e Coronel Romoja.
Fonte:http://www.jornalnoticias.co.mz/index.php/politica/69720-filipe-samuel-magaia-um-percurso-heroico-iniciado-desde-a-infancia.html