O cinema italiano sempre foi sinônimo de qualidade, o qual foi evidenciado, sobretudo, pelos 11 Oscar que levou ao longo da história da premiação. Porém, o país não possuía um indicado desde 2021, quando “A Mão de Deus” foi indicado e a sua última vitória é mais longínqua ainda, datando em 2013, com “A Grande Beleza”. “Eu, Capitão”, ou “Io Capitano” na língua original, conseguiu quebrar a primeira marca e ser indicado a Melhor Filmes Internacional no Oscar 2024, mas dificilmente conseguirá quebrar a segunda (muito pela qualidade dos seus concorrentes, vale dizer). Venha ver o que achamos desse belo, mas pesado filme, que assistimos a convite da Pandora Filmes e estreia dia 29 de fevereiro nos cinemas.
A história
Seydou (Seydou Sarr) e seu primo, Moussa (Moustapha Fall), dois adolescentes senegaleses, decidem abandonar suas vidas no país natal para tentar a carreira de cantor na Europa. Após juntarem dinheiro trabalhando em serviços braçais e escondidos de suas famílias, os dois partem de Dakar para uma desumana jornada, que coloca à prova suas ingenuidades e até mesmo as próprias vidas, enfrentando as adversidades naturais do deserto do Saara e do Mar Mditerrâneo, bem como a corrupção e a ganância dos ser humano.
O retrato da imigração ilegal é seu ponto forte
Na última década, as imagens dos processos migratórios ilegais assolaram o mundo, fosse pelas condições em que elas se davam, pelas mortes que elas causavam ou então pelas nojentas reações xenófobas e racistas que os migrantes sofrem até hoje. Porém, poucas vezes essas imagens vieram sob a ótica daqueles que vivenciaram todos os desafios do trajeto. É nesse ponto que Matteo Garrone, diretor e o principal roteirista do filme, encontra a maior força dele. Ao retratar toda a jornada de Seydou e Moussa desde Senegal, um país subsaariano, até a Itália, o filme explora a perversidade do trajeto e da humanidade, mas também traz consigo elementos, principalmente, da cultura senegalesa, como as línguas locais, a fé e os ritos religiosos, mas também as diferentes Áfricas que existem no continente e seus conflitos.
A parte técnica deixa a desejar em alguns momentos
Em filme com tal premissa, é curioso perceber como seus melhores momentos são aqueles não verbalizados. Nos momentos em que o roteiro e as atuações devem externar mais, sua qualidade decai, pois acabam se tornando muito protocolares e de pouco risco, bem como a própria direção. São nos momentos em que o filme busca mais o subentendido ou então nas reações mais pessoais, é que entre os personagens e suas relações evoluem e amadurecem. É nessas horas também que fica o destaque para a atuação de Seydou Sarr, bem como para a direção de Garrone, que consegue extrair o melhor dos atores. Há também que se destacar que apesar de ser um filme de produção italiana, há pouquíssimas falas na língua do país, o que se justifica pelo fato dos personagens não serem italianos.
Fonte: Pippoca