Desafio actual do município mais extenso do país é colocar uma torneira em cada casa
Em 2015, apenas três dos 33 bairros que fazem a autarquia de Boane tinham água potável. A colocação até parece trivial, sobretudo porque o acesso à água continua um luxo para milhares de moçambicanos. Mas não é. Não só por se tratar de um direito, mas também porque está a falar-se de um município onde se localiza a maior estação de captação e tratamento de água do sul de Moçambique, a estação de Umbeluzi, que fornece água às cidades de Maputo e Matola.
Em Boane, as populações faziam pequenos depósitos de betão enterrados nos quintais, para conservar a água da chuva. Na época de estiagem, os depósitos recebiam água comprada em camiões-cisterna. “Pagávamos 400 meticais por cada mil litros de água. Esta quantidade só chegava para uma semana”, lembra Helena Sitoe.
Hoje, a família de Helena Sitoe faz parte de tantas outras que já têm água em casa. “Sofríamos muito com a falta de água. Tirávamos água em riacho e depois passámos a tirar no fontanário, à noite. Agora, dá para ver que estamos a desenvolver aos poucos”, conta a mãe de quatro filhos, remexendo a torneira.
O acesso à água canalizada não inutilizou o depósito da família de Helena. “Continuamos a encher, para garantir água nos dias em que não jorra na torneira”, disse, acrescentando que “quando usamos muita água, pago 600 meticais por mês”, incluindo o valor do contrato.
De 2015 a esta parte, o município conseguiu pôr água canalizada em 24 bairros. Um alívio para milhares, que passavam noites nas escassas fontes de água. “Disputávamos as poucas fontes de água que existam. Houve tempo em que passávamos noites junto às fontes para conseguir água”, lembra Lina da Glória, cuja residência fica paredes meias com o novo fontanário do bairro.
Já o chefe da localidade municipal Eduardo Mondlane, a maior de Boane, refere que, em 2014 e 2015, houve muitos protestos motivados pela crise de água. “A população bloqueava as vias de acesso e, em alguns casos, tivemos que solicitar o apoio do comando provincial da Polícia para controlar a situação”, conta Armando Rodrigo.
Composta por 14 bairros, a localidade Eduardo Mondlane já tem água canalizada em 13. Mas não foi sempre assim. “Antes de tomada de posse dos órgãos municipais, apenas um bairro é que tinha água. É o bairro Gimo, localizado perto da estação de bombagem do FIPAG”.
Para as famílias que ainda não conseguiram pagar as ligações domiciliárias, foram construídos pequenos fontanários, de modo a garantir água para todos. Aqui, cada família paga mensalmente 40 meticais, dinheiro usado para a manutenção do sistema.
“Desafio actual é colocar uma torneira em cada casa”, diz Jacinto Loureiro
Depois de ligar água em 24 bairros, o desafio do conselho municipal da vila de Boane é garantir uma torneira em casa residência. “Agora, estamos a colocar o tubo secundário, que sai do tubo primário para os quintais”, explica Jacinto Loureiro. Boane é o mais extenso município do país e o edil reclama de que a dispersão dos bairros agrava os custos de canalização de água e provimento de outros serviços básicos. “Por exemplo, para colocarmos água no bairro Eduardo Mondlane, foram cerca 24 quilómetros de tubagem, mais ou menos a mesma distância de tubagem para puxar água até Mahubo. A dispersão dos bairros de facto é uma grande dificuldade, mas é lá onde estão os nossos munícipes”. Para garantir água em todos os bairros, o município de Boane conta com apoio de mais de 10 parceiros.
A água que abastece a maioria dos bairros de Boane é captada a partir de um centro distribuidor da Administração de Infra-estruturas de Água e Saneamento (AIAS). Este é o órgão central responsável pela gestão do património dos sistemas públicos secundários de distribuição de água e drenagem de águas residuais, promovendo a sua gestão operacional autónoma, eficiente e financeiramente viável.
Fonte:http://opais.sapo.mz/index.php/sociedade.html