OPINIÃO Dois olhares

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Otamendi, Aursnes e um calendário apertado; JJ e o… tamanhinho; o caminho de Jota Silva

1 Cada cabeça, sua sentença. Na semana em que Otamendi abriu a porta à participação nos Jogos Olímpicos (26/7 a 11/8), ciente de que provavelmente também fará parte das escolhas da Argentina para a Copa América (20/6 a 14/7), Aursnes renunciou à seleção da Noruega com o argumento de que pretende ter «mais tempo e liberdade para priorizar outras coisas na vida além do futebol».

Confrontados com um calendário quase sem datas livres, preenchido por compromissos de clubes (novo formato da Champions com 36 equipas e do Mundial de clubes com 32, a partir da próxima época) e seleções (Mundial-2026 terá 48), os dois jogadores do Benfica reagem de formas opostas. Ambas as posições são respeitáveis e defensáveis.

Aos 41 anos, Pepe dá cartas no FC Porto e volta a figurar nos eleitos da Seleção na antecâmara do Europeu. Ronaldo, outro a caminho da ternura dos 40, continua igualmente 100 por cento disponível para a equipa das quinas e mantém-se no Al Nassr tão hipnotizado pelo golo como no início do século quando impressionou Boloni de leão ao peito. Os dois internacionais portugueses perceberão melhor Otamendi, mas De Bruyne, por exemplo, identificar-se-á mais com Aursnes, conforme se percebeu pela reação à paragem forçada de cinco meses por lesão no decorrer desta temporada do Manchester City (27 partidas de ausência): «Por um lado, até gostei. Estou há dez anos a jogar praticamente sem parar. Trabalhei duro para recuperar, mas soube bem ter tempo para a família e os amigos.»

Mais jogos, jogos mais longos (minutos de compensação cresceram), alimentam o desgaste dos jogadores e o risco de lesões — apesar da evolução da medicina desportiva —, a qualidade do futebol terá tendência a diminuir, o desinteresse do público a aumentar. «Há regras para o número máximo de horas por dia que um condutor pode estar ao volante de um camião, mas não há limite anual de jogos para um futebolista», eis frase de há uns anos de um responsável médico da FIFA que me ficou na memória e que talvez interesse a Otamendi e Aursnes.

Um relatório de 2023 da FIFPro apresentava dados curiosos para reflexão — Bellingham (Real Madrid) tinha mais 30 por cento de minutos jogados aos 20 anos do que Rooney com a mesma idade, enquanto Mbappé, em comparação com Henry, ambos aos 24 anos, estivera em ação 26.952’, 48 por cento mais do que o compatriota. Não é por acaso que as constantes lesões de Pedri (Barcelona), 21 anos, e Arda Guler (Real Madrid), 19 anos, justificam discussão em Espanha sobre os perigos do lançamento precoce de jovens com tanta carga competitiva.

2 Desde 2008/09 que Jorge Jesus ganha troféus em todos os clubes que orientou — SC Braga, Benfica, Sporting, Al Hilal (primeira passagem pelo clube), Flamengo e Fenerbahçe. Agora, com vitória sobre o Al Ittihad, guiou o Al Hilal a recorde do Guinness com 28 triunfos seguidos. Goste-se mais ou menos de JJ, era preciso ser «deste tamanhinho» — expressão do próprio quando quis desvalorizar Rui Vitória… — para não dar valor ao feito.

3 Sousense, P. Ferreira, Sp. Espinho, Leixões, Casa Pia e V. Guimarães, assim é o trajeto de Jota Silva, convocado para a Seleção — quem disse que não se pode chegar ao destino sonhado por estradas de terra batida e alcatrão esburacado?

Fonte: A Bola

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